"Há bocadinho fui espreitar à janela e estava uma rapariga lá em baixo, à chuva. Isto às onze da manhã, a rua deserta e ela imóvel diante da agência de viagens, sem gabardina sequer, à chuva. Cabelos curtos, sapatos de ténis, os braços ao comprido do corpo, sozinha como uma estátua. Não volto à janela porque não quero encontrá-la, parece acusar-me de uma falta que desconheço, afigura-se-me um remorso vivo. À chuva. Não acaba, este inverno, esta solidão magoada, desconfortável."
in "Crónica da Rapariga à Chuva" de António Lobo Antunes
1 comentário:
São de palavras assim, simples, que descrevem imagens simples, que nascem interpelações à nossa quietude, quando disso se trata.
Gostei da tua escolha filha.
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