domingo, 8 de fevereiro de 2009

Devaneio Primeiro

A luz entra tímida pela janela. Ainda o sol vai baixo, mas pela janela já entra a primeira luz da manhã. Os sons crescentes. É um novo dia que amanhece para nós, meu amor. Não me mexo com medo, não querendo estragar o quadro que o pintor deixou da noite anterior. A tua mão poisada no meu seio, no meu peito balouçante do bater do coração. Enroscados nos lençóis de linho branco, cuidadosamente engomados pela Dona Celeste, cuidadosamente bordados pela Dona Encarnação.
A tua barba por fazer dá-te um ar mais maturo, apesar de seres ainda um menino. Encosto a cabeça no teu peito e subo a perna até unir o joelho com a tua anca. Encaixamos. A tua tatuagem rebelde confunde-se nos meus cabelos. Os teus caracóis estão no sitio certo e a luz joga a teu favor.
Em cima da cama ficaram esquecidas as folhas de papel com cheiro a canela e as roupas que lentamente fomos dispensando à medida que o ponteiro do relógio avançava e a noite se tornava mais intensa. O refresco de café, em cima da cómoda, dava contas da sua graça ao encher o ar com o seu aroma que se misturava com o papel de canela. O copo alto tinha manchado a madeira velha, por se ter derretido um pouco, ao ver a picardia louca de entregas.
Aqui tudo se conjugava, tudo batia certo, no lugar onde estavam ali pertenciam. Aquela rodinha desgastada na cómoda de madeira velha era o símbolo para onde ia olhar e emoldurar aquele momento. Ali, contigo, tão perfeitamente desenhados sobre o sol das seis e meia.

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