terça-feira, 27 de outubro de 2009

Princípio, Meio e Fim.

Mais um dia contrariada sentada naquela mesa, a espera do temível papel e caneta que a professora tinha para entregar e com o qual, em trinta minutos, era suposto escrevermos uma Composição. Sempre achei o nome demasiado pomposo para a obra que no final de contas saía dali. Era afinal uma composição de que? Resumia-se tudo a um paragrafo, cheio de erros ortográficos, com incoerência e sem pontuação. E isso repetido vinte e cinco vezes era realmente um composição de... Mas assim tinha de ser. Sentada na carteira da frente, ouvia os sapatos altos da professora aproximarem-se, e o estilhar das folhas que ia deixando espalhadas pelas crianças com as alminhas desfeitas com tão agradável actividade. Chegou a minha vez... "Eshah" e ali estava uma folha branca só para mim e uma caneta azul bic prontinha a dizer-me que me ia dificultar a actividade que já por si, nada tinha de satisfatório.
- Podem começar a escrever! Coloquem a data e o nome no início da folha, depois escrevam 'Funcionamento da Língua' e 'Composição'. Depois, quando eu disser, o Pedro passa a recolher as folhas e as canetas.
Finalmente a minha tortura tinha chegado.
- Escrevam um texto com princípio, meio e fim. - ainda acrescentou a professora. Mas esta parte já ninguém ligava. Pobres crianças tão pequenas e uma folha branca tão grande. Impossível! Pensei eu... quem tem ideias, tantas ideias, para conseguir encher uma folha? Todos os textos se resumiam ali a duas ou, os mais corajosos, a três frases que demoravam trinta minutos a escrever. Eu sou corajosa e escrevo três frases sempre. Uma que é o princípio, outra que é o meio e outra o fim. Mas não sei de verdade o que escrever hoje.

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