quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Vou contar uma História, pois contar uma história é o maior dom que o Homem pode ter.

Esta começa há muito tempo atrás, quando uma criança nasceu.

Filha do vento e da água, sempre em busca do fogo de viver. Os cabelos esvoaçavam ao vento, mal apanhados dos lados, rebeldes caracóis nas pontas que teimavam em enrolar.
Olhos profundos, castanhos que vêem a alma, que transparecem a genuinidade do ser livre.
Sentava-se muitas vezes naquele canto, em cima do rochedo a olhar a água calma que vai e vem e lhe leva e traz os pensamentos. A respirar o ar fresco que se faz descobrir mesmo nos dias mais quentes, perto daquele paraíso dos tristes.
Lá longe o verde das árvores contrasta muito bem com a cor do céu, vermelho pôr-do-sol.
É hora de voltar.
Filha do vento e da água recolhe quando avista o fogo de viver, ao longe, no horizonte.
Naquele dia o sol não nasceu. Precisava dele para respirar, para viver cada dia, para sentir o coração dentro do peito a vibrar. Sem o fogo da vida, não sabia viver.
Sentou-se na pedra, em frente o suspiro da água que ia e vinha calmamente sussurrou aos seus ouvidos: "em frente é o caminho!".
Pegou na réstia de esperança, e seguiu o caminho da coragem em busca do seu fogo de viver, que tinha perdido naquele dia.
Caminhou durante horas, dias... e nem sinal desse sol quente que ardia no seu peito todas as noites, todos os dias.
Perguntou aos pássaros, às árvores, aos animais, à lua, à água, ao vento, mas parecia que nunca ninguém tinha visto esse fogo. Ninguém conhecia essa força da Natureza, ninguém achava possível tal coisa existir.
Mas não ia desistir. Precisava desse fogo de viver para continuar a sonhar!
Procurou durante anos.
Prestes a desistir, voltou ao lugar onde quando era criança costumava sentar-se a olhar o seu mundo, a segurar naquelas mãos pequenas tamanha força.
Já não eram as mesmas mãos aquelas para as quais olhava agora. Gastas do tempo, linhas carregadas, cheias de tão pouco. Os seus olhos cansados afundavam na sua cara, pele tostada, cabelos ao vento.
Já não era a criança. Já não havia mais nada que segurar naquele corpo velho.
E quando fechou os olhos, para olhar e ver o seu interior, para ver o que restava e si, o sol voltou a nascer.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os Putos

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.


Carlos do Carmo

domingo, 21 de dezembro de 2008

A Fuego Lento

Por vezes o coração arde, é um fogo que prende a respiração. É a necessidade de mudança, é o sentir calor de alguém, é o fazer o bem, é o impulso da felicidade. Abrir os braços, olhar o céu e rodopiar inspirando a vida, beber a canção. Subir ao mais alto de nós, embrulhar o nosso orgulho por momentos, guardá-lo no bolso, sorrir para quem passa sem pedir nada em troca. É sentir o abraço quente de quem se entrega a nós, sorrir por um bom momento passado, acreditar que todos têm o bem la dentro. Suspirar como quem não pode pedir mais nada. Rir do que tem graça. Rir do que não tem. Sentir o sol da primavera no inverno, sonhar ser pássaro, ser flor, ser borboleta, ser mar. Tudo ao mesmo tempo, uma coisa de cada vez.
Sou feliz!




Estrella, Erika y Aranza

sábado, 20 de dezembro de 2008

Um texto vindo do nada...

Anyway, i can try anything it's the same circle that leads to nowhere and i'm tired now.
Anyway, i've lost my face, my dignity, my look, everything is gone and i'm tired now. But don't be scared, i found a good job and i go to work every day on my old bicycle you loved. I am pilling up some unread books under my bed and i really think i'll never read again. No concentration, just a white disorder everywhere around me, you know i'm so tired now. Don't worry i often go to dinners and parties with some old friends who care for me, take me back home and stay. Monochrome floors, monochrome walls, only abscence near me, nothing but silence around me. Monochrome flat, monochrome life, only abscence near me, nothing but silence around me. sometimes i search an event or something to remind me, but i've really got nothing in mind. Sometimes i open the windows and listen people walking in the down streets. There is a life out there. But don't be scared, i found a good job and i go to work every day on my old bicycle you loved. Anyway, i can try anything it's the same circle that leads to nowhere and i'm tired now. Anyway, i've lost my face, my dignity, my look, everthing is gone, gone and i'm tired now. But don't be scared, i found a good job and i go to work every day on my old bicycle you loved. Don't worry i often go to dinners and parties with some old friends who care for me, take me back home and stay. Mochrome floors, monochrome walls, only abscence near me, nothing but silence around me. Monochrome flat, monochrome life, only abscence near me, nothing but silence around me...
encontrado por acaso

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Medo


Mariza

Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem, desdigo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

Amália Rodrigues
Música: Alain Oulman
Letra: Reinaldo Ferreira
In: "Segredos",1997

sábado, 13 de dezembro de 2008

Will you take me as l am?

vamos jogar um jogo?
andar de baloiço?
correr pelas ruas?

vamos saborear os momentos porque são nossos?
vamos abraçar a estátua que não é abraçada a tanto tempo?
vamos sorrir para quem passa?
correr pelas ruas?

vamos caçar borboletas?
vamos dançar?
vamos?
e correr pelas ruas?

vamos jogar a bola?
vamos cantar?
vamos a praia amanha?
vamos correr as ruas?

vamos viajar?
tirar fotografias?
vamos cozinhar?
vamos ver um filme?
correr pelas ruas?

vens dar-me a mão?
vamos subir pelo muro?
vens comigo?
vens?
vamos correr pelas ruas?



Joni Mitchell - California



Sitting in a park in paris, france
Reading the news and it sure looks bad
They wont give peace a chance
That was just a dream some of us had
Still a lot of lands to see
But I wouldnt want to stay here
Its too old and cold and settled in its ways here
Oh, but california
California Im coming home
Im going to see the folks I dig
Ill even kiss a sunset pig
California Im coming home

I met a redneck on a grecian isle
Who did the goat dance very well
He gave me back my smile
But he kept my camera to sell
Oh the rogue, the red red rogue
He cooked good omelettes and stews
And I might have stayed on with him there
But my heart cried out for you, california
Oh california Im coming home
Oh make me feel good rockn roll band
Im your biggest fan
California, Im coming home

Oh it gets so lonely
When youre walking
And the streets are full of strangers
All the news of home you read
Just gives you the blues
Just gives you the blues

So I bought me a ticket
I caught a plane to spain
Went to a party down a red dirt road
There were lots of pretty people there
Reading rolling stone, reading vogue
They said, how long can you hang around?
I said a week, maybe two,
Just until my skin turns brown
Then Im going home to california
California Im coming home
Oh will you take me as I am
Strung out on another man
California Im coming home

Oh it gets so lonely
When youre walking
And the streets are full of strangers
All the news of home you read
More about the war
And the bloody changes
Oh will you take me as l am?
Will you take me as l am?
Will you?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Já sentia uma certa falta de uma conversa assim... não é todos os dias que temos uma companhia para conversar, esbracejar uma data de lamúrias, indignações, dar-me a conhecer e ter á minha frente alguém que não fez cerimónias para me mostrar grande parte da sua vida. Sabe muito bem sorrir com alguém, fazer as mesmas piadas, ver o tempo voar e nem dar por isso...

Arrancamos com o carro sem saber muito bem o destino a tomar... acabamos por seguir o caminho que estava mais a mão. Em frente é que manda a gente! E seguimos.
Paragem obrigatória: um café bem agradável e um pulinho pelas luzes da cidade. O vento fazia-se sentir. Os cabelos despenteavam-se e as luzes brilhavam ainda mais. Talvez o brilho dos olhos o fizessem parecer maior. Equilibramo-nos em cima de um muro, como duas crianças... ou pelo menos tentamos. Depois de cinco horas na conversa, foi como se o tempo tivesse voado.

Há pessoas que nos surpreendem. É fantástico sentir que há compreensão mútua, natural, verdadeira. Identificarmo-nos com o modo de pensar, com a maneira de estar, ter os mesmos pensamentos, ler sonhos da noite anterior, etc e tal.

Percorremos todos os CDS que estavam no carro, ainda ouvimos umas quantas músicas no rádio. Foi um momento que teve um sabor a conforto, tranquilidade... não sei se já provaste disso? É um dos meus pratos favoritos para além dos que invento na cozinha.




(bip-bip-bip-bip....)

Horas de ir para a faculdade, e lá me levanto com esforço.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Nicolo Paganini - caprice 4



TianWa Yeung

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Will You Still Love Me Tomorrow?

O meu desejo é que me cantes baixinho esta música no meu ouvido, um dia.
Porque não hoje?...




Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
Or just a moment pleasure
Can I believe the magic of your sight
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now and I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...


Laura Branigan