domingo, 25 de janeiro de 2009

Sueno de Juventud



Maria Volonté


Sufres porque me aleja
la fe de un mañana
que busco afanoso
tan sólo por ti.
Y es un collar de estrellas
que tibio desgranan
tus ojos hermosos
llorándome así.

Sueño de juventud
que muere en tu adiós,
tímida remembranza
que añoraré,
canto de una esperanza
que ambicioné
acariciando tu alma
en mi soledad.
Mi pobre corazón
no sabe pensar,
y al ver que lo alejan de ti
sólo sabe llorar,
sólo sabe gemir,
sangrando al morir
en tu adiós...

Lírico amor primero,
caricia y tortura,
castigo y dulzura
de mi amanecer.
Yo acunaré en un canto
tu inmensa ternura
buscando en mi cielo
tu imagen de ayer.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Apaguei o cigarro devagar. Olhei o fundo do cinzeiro sem pensar nos pós de cinza que o enchiam e onde poisavam os meus olhos mas flutuando pela tarde de ontem. Pela janela aberta entrava o vento da noite, o cheiro da rua. O cão a ladrar lá em baixo, para alguém moribundo que passava aquela hora. Estive este tempo todo infinito embrulhada na minha manta em frente a máquina de escrever a espera de uma ideia. Hoje não é dia de ideias. Ficaram em cada sacudidela de cigarro, fugiam em cada bafo mal puxado, em cada olhar preguiçoso para o fundo do cinzeiro.
Suponhamos agora que num segundo, entre o poisar do filtro e o afastar do cinzeiro, aquela ideia surgia. Aquela ideia que desde ontem esperava ter e não chegava. Desde ontem que dava voltas as palavras, interjeições e sem modo de começar um texto. Aqui na máquina de escrever que tenho ao lado só entram as ideias provenientes do poisar do cigarro, do poisar do pó, do poisar do tempo. Mas contando com o facto de ser só uma suposição não se pode concluir que a ideia tenha verdadeiramente chegado.
Apoderou-se de mim uma enorme melancolia. Peguei com força de vontade nas pernas e fi-las segurar o meu corpo mais pesado nesse dia com tudo o que tinha em cima dos ombros e todas as vontades de ideias que borbulhavam na minha cabeça. Aconcheguei a manta nos ombros, e segui para a cozinha velha, de paredes velhas, fazer um leite com chocolate quente.
Imaginei-me num daqueles filmes americanos românticos com a janela aberta e cortinas esvoaçantes, com chocolate quente e uma lareira acesa, uma carpete fofa branca onde me entrelaço, crio laços e raízes. Delírio.
(Traasch)
Lá se vai a chávena e o leite espalhado pelo chão. Nem sabia a cor do chão. Ando tão aluada ultimamente que nem vejo onde ponho os pés. Mosaicos verdes e brancos sujos de chocolate liquido e salpicos por todo o lado e a chávena partida no canto para onde acabou de rolar.
Vou a correr limpar o chão e fecho a janela que o frio incomoda.
Está tão ridículo. Vai saindo conforme calha. Conforme me vêm ideias. Conforme me lembro de palavras que juntas transmitem algo.
(tack takc tack tack)
A máquina de escrever segue em frente.

A ideia:

Linda, sensual deslocava-se pelas escadas, deslizava com o seu vestido comprido branco, sem enfeites, sem adornos. Só ela e a sua beleza natural. O cabelo ligeiramente desgrenhado.
- Ana? - Segredou uma voz ao fundo do corredor

Parei. Não fazia sentido nenhum... Ana? Ao fundo do corredor? Que coisa vulgar... e apaguei o texto todo. E tudo o que ficou para trás, todo o tempo que ficou perdido, ficou igual.
"Ver o bem e não fazê-lo é sinal de covardia."

Confúcio

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

As Plavras e o Filme

"O Estranho Caso de Benjamin Button"
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"Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente. Começar morto para despachar logo esse assunto. Depois acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar, receber logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma. Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para o liceu. Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bébé até nascermos. Por fim, passamos 9 meses a flutuar num spa de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois Voila! Acaba com um orgasmo! I rest my case."
Woody Allen

O Mare e Tu


O Mare E Tu (with Dulce Pontes) - Andrea Bocelli

Sentir em nós
Sentir em nós
Uma razão
Para não ficarmos sós
E nesse abraço forte
Sentir o mar
Na nossa vóz,
Chorar como quem sonha
Sempre navegar
Nas velas rubras deste amor
Ao longe a barca louca perde o norte.

No teu olhar
Um espelho de água
A vida a navegar
Por entre sonho e a mágoa
Sem um adeus sequer.
E mamsamente,
Talvez no mar,
Eu feita em espuma encontre
o sol do teu olhar,
Voga ao de leve, meu amor
Ao longe a barca nua
a todo o pano.

Andrea Bocelli & Dulce Pontes

domingo, 18 de janeiro de 2009

Gypsy Flame





Gypsy Flame - ARMIK

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Beijo

Gustav Klimt, 1907


Não sou especialista em arte, nem tão pouco considero que saiba aprecia-la devidamente. Mas tenho a minha opinião e declaro-me, portanto, capaz de a exprimir. Olhando para este quadro, que desde cedo me fascina, continuo a gostar dele com a mesma intensidade desde a primeira vez que o vi. Para mim, este quadro é muito peculiar na forma como o artista capta o momento íntimo de um beijo de dois amantes. Não se trata de um beijo nos lábios, de ardente paixão, mas sim um beijo na face, onde o carinho e o amor se depositam com a delicadeza e suavidade do momento. Repare-se na posição das mãos dos dois, o segurar da face da amada que está ali mesmo deitada, mas segura por uma busca de saudade, de pertença saudável, de querer bem. A amada que, de pulso delicado coloca elegantemente a mão sobre a dele, como se aquele poisar fosse a única maneira de o sentir ali consigo. A outra mão entrelaça a força da paixão, o prazer de sentir o seu amado ali, ao seu lado. Envolta no seu pescoço. Os olhos fechados significam a mais pureza do sentimento, o não necessitar de ver o outro para saber que esta ali consigo em corpo e em espírito... a confiança, o deixar levar-se pelo sentimento... O ombro desnudo da mulher a sensualidade, o arrepiar de prazer. O braço fino indica a delicadeza, a elegância da figura feminina. Os ornamentos florais no cabelo aclamam a natureza, a beleza do acto, tão natural, tão puro e verdadeiro. As flores, que belas soltam seu perfume e chamam pelo desejo. Os pés da rapariga estão encolhidos, com força, tal é o prazer do acto, tal a entrega, o despejar de amor naquele momento. Nada mais que um momento, tão curto, tão demorado. Que dura há precisamente 102 anos e perdura no tempo, eternamente.

Tango

"O tango é a dança da carne, do desejo, dos corpos entrelaçados. É um dialogo novo, a sedução feita movimento, o ir e vir, encontro de dois mundos. É um baile exibicionista, esteticamente belo, e ronda sem temores o universo do lúdico."


Tango Flamenco - ARMIK

Respirar os dias normais

Levantei-me, depois de uma noite bem dormida, coisa que já não fazia a algum tempo. Acordei, levantei-me e depois de um banho relaxante apeteceu-me sair para passear nas ruas da Baixa e comer castanhas enquanto "Ray Charles" tocava para mim. "I got a woman"...



Balançar ao som da música que só eu ouvia, mas toda a gente a minha volta se movimentava parecendo seguir um ritmo comum. Já é este dia-a-dia que me é familiar e onde me sinto ser eu mesma. Sem questões sobre se pertenço ou não aqui, insiro-me no meio da multidão onde toda a gente se desconhece. Mas toda a gente se aceita igual nas pequenas coisas. Nem que seja só seguir de um ponto para outro da cidade. Independente de ideias. Ser eu própria cada dia, sem ligar a intrigas. Sentir-me bem com o ser quem sou. No meu meio, que é de toda a gente, mas também um pouco meu.
Visto o meu casaco preto, comprido, que me esconde e aconchega lá dentro, subo sempre a gola para parecer mais "in" e ponho as mãos nos bolsos onde guardo os meus segredos.
Fecho a porta de casa, sem bater... Odeio bater com portas. Só depois verifico se trouxe a chave... não vá o diabo tece-las, mesmo que não tivesse trazido já cá estava fora sem vontade nenhuma de voltar a entrar. Desci as escadas aos pulinhos para aquecer. Tropeço sempre no último degrau. Por mais vezes que ali passe.
Ao sair, sinto uma fria aragem que hoje sabe bem. Gela-me a cara, já nem sinto o nariz, mas isso é o inverno não é? Então porque não aproveitar, dar valor ao facto de tal maravilha da natureza existir? Deixai-o estar com o seu vento frio, a sua chuva, a neve. Ver como é belo todos os dias porque acontece naturalmente.
O passeio está molhado e parece que estreita lá á frente. Perspectivas da rua-perpendicular onde moro, onde os passeios são mais pequenos lá a frente mas depois alargam para nos deixar passar. Digo "Olá!" ao senhor da mercearia, que muito espantado responde um olá com sorriso rasgado. Deve ter sido o primeiro olá que ouviu hoje visto ser tão cedo. Linha-Verde até a Baixa. Mas aqui não. Talvez noutro dia...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

The Letters



Leonard Cohen and Sharon Robinson

You never liked to get
The letters that I sent.
But now you've got the gist
Of what my letters meant.
You're reading them again,
The ones you didn't burn.
You press them to your lips,
My pages of concern.
I said there'd been a flood.
I said there's nothing left.
I hoped that you would come.
I gave you my address.
Your story was so long,
The plot was so intense,
It took you years to cross
The lines of self-defense.
The wounded forms appear:
The loss, the full extent;
And simple kindness here,
The solitude of strength.
You walk into my room.
You stand there at my desk,
Begin your letter to
The one who's coming next.