quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Gato e a Noite


Pomplamoose - Nature Boy

Nas bordas dos telhados podíamos encontra-lo, sempre astuto, olhando as estrelas em busca de voar. Mas não podia não. Das sete vidas, tinha perdido oito a tentar saltar dos telhados em busca de asas. Era vadio e livre como uma andorinha, odiava gritos pois assustavam-lhe a alma calma e sábia, caminhava lentamente e dava saltos seguros de si, muito cheio de si, muito gato-tigre que não era... mas gostaria de ser. Olhar de rufia, mas esperto, inteligente, de quem lia nas entre-linhas o que a noite lhe dizia. Tinha grandes conversas com a lua, que lá no alto via tudo o que se passava cá em baixo com mais clareza. Magro e esguio, escapava-se por entre os prédios enormes, escuro como a noite, confundia-se no seu suspiro. E ela, a noite, adorava deixar-se enganar por aquele gato-bravo que a endoidecia e a tornava mais misteriosa.


Pomplamoose - La Vie en Rose

Ela cantava... Alegrava-lhe a vida aquele pequeno. Levava com ela o vento e as folhas e as borboletas nocturnas a soprar aos ouvidos do Sr. Manuel que fechava o café as 2h15min todos os dias. Levava o vento até a ponte onde os amantes se encontravam todas as noites para olhar as luzes da cidade reflectidas no rio. Levava a alegria romântica até ás ruas calcetadas no ponto mais alto da cidade. Levava aquele vento cortante que nos faz chorar os olhos quando nos rimos de nervosismo e contentamento nas noites frias em que o coração parece um lugar mais quente para nos refugiarmos.
A noite tinha-se tornado uma velha alegre e bêbeda que levava o seu riso histérico, tombando e cambaleando, rindo da sua própria figura, seguindo aquele gato.