quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Josh

“You're such a pretty boy Josh.” - she whispered in a serene approach for his lips.




Josh Rouse - Flight Attendant



But then she became conscious that his lips were too distant from her tranquility and reserved for another time the wish of being in the solitude of warmness.
Her harmony said to her spirit, to rest in peace, and to not keep looking for an unachievable substance. Like the anti-matter, that all her body had been transformed. Like as if she touched on something, that entity will disappear as a destruction of particles that in conjunction with her warmth and soft skin were too much irresistible for be maintained in this world.

Therefore, she just walked away.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Chuva

"Há bocadinho fui espreitar à janela e estava uma rapariga lá em baixo, à chuva. Isto às onze da manhã, a rua deserta e ela imóvel diante da agência de viagens, sem gabardina sequer, à chuva. Cabelos curtos, sapatos de ténis, os braços ao comprido do corpo, sozinha como uma estátua. Não volto à janela porque não quero encontrá-la, parece acusar-me de uma falta que desconheço, afigura-se-me um remorso vivo. À chuva. Não acaba, este inverno, esta solidão magoada, desconfortável."

in "Crónica da Rapariga à Chuva" de António Lobo Antunes

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

September in the Rain


Peggy Lee

terça-feira, 31 de agosto de 2010

(A)Gosto

Gosto dos contrastes do céu a querer engolir o negro de tudo o que se lhe sobrepõe. Gosto do perfil das árvores que já não se sabem vivas ou sombras. Morre o vermelho e o azul numa neblina que lá longe faz parecer o ar sufocante e irrespirável.
Há beleza inexplicável que cada um "inexplica" à sua maneira. Não tento fazer as coisas bonitas para os outros. Digo-as com a beleza que consomem meus olhos (e a maior parte das vezes nem digo nada e apenas observo).

Há pores-de-sol inesquecíveis e inexplicáveis.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Amanhã

O céu até pode estar bonito de verdade. Lá longe são os tons de laranja e azul e rosa que se esfumam. As luzes ao fundo. As estrelas que na partida parecem maiores. Ainda que o céu possa estar verdadeiramente bonito... Ainda que o silêncio lá fora se demore... Imagino-me perdida no meio do verde das montanhas, deitar-me nele, deixar-me aconchegar por ele e tornar-me nele, criar raízes das que não prendem. Ainda que o céu esteja mesmo muito bonito... Desejo tornar-me pássaro, sem perder a fraca racionalidade que possuo, nem o que me cabe na alma, e voar para um novo lugar, sentir esses ventos que já algures sentiram lábios, beijos, pele, sorrisos e lágrimas, de toda a parte do mundo, e me trespassem as asas para que me sinta pertencente àquele vento também. Ainda que o céu esteja bonito de verdade... Anseio que o de amanhã chegue.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Surpresa!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os Ponteiros do Relógio

Às vezes teimam a andar para trás, os tontos! Nós endireitamos, damos corda, mudamos as pilhas todos os santos dias e eles continuam parados. Outras vezes, doidos, caminham para trás como se quisessem alcançar um tempo qualquer passado, um passado qualquer, um número inatingível: pois a seguir ao 12 vem sempre o 1 de novo.
O tempo é tão pequeno quando se debruça pelas horas indeterminadas da tua chegada ou ausência limitada, nos últimos momentos em que te espero.
O tempo passa e o que parecem 48 segundos é na realidade mais que muito tempo. Quem nos manda confiar nosso destino, nosso conceito de tempo, a nossa vida toda confinada a um aparelho que determina o momento? Ele dita o quando esse momento termina, quando se inicia, quando e quanto vale ou não.
Tenho um vermelho em cima da mesa. Com ponteiros barulhentos, que mesmo quando estão parados ele respira um “tac-tac” ruidoso, ameaçando cada segundo de ser mais um segundo vazio. Vazio de tempo? Vazio de momento? Porque passo demasiado tempo a olhar os movimentos, a espera da altura em que eles, por rebeldia, ou simplesmente porque desejam tanto como eu desafiar as lógicas do que é comum, decidam andar para trás. E deixem aquele gosto de voltar a reviver de novo algo já com um determinado sabor, e/ou fazer nascer um novo, quem sabe...
Às vezes teimam em andar para trás, os tontos…

terça-feira, 8 de junho de 2010

Música Lenta

Para que tú entres,
a veces de tristeza, el corazón se me abre.

Como una puerta tímida,
para que tú entres, el corazón se me abre.

Pero tú no vienes,
no vuelas más sobre los campos.

En vano mi corazón
a la ventana de su dolor se asoma.
Pasas de largo,
como si el viento
soplase sólo para allá.

Pasa la mañana y no viene la tarde.
Y el corazón se me cierra,
como una mano sin nadie, el corazón se me cierra.

Manuel Scorza

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Gato e a Noite


Pomplamoose - Nature Boy

Nas bordas dos telhados podíamos encontra-lo, sempre astuto, olhando as estrelas em busca de voar. Mas não podia não. Das sete vidas, tinha perdido oito a tentar saltar dos telhados em busca de asas. Era vadio e livre como uma andorinha, odiava gritos pois assustavam-lhe a alma calma e sábia, caminhava lentamente e dava saltos seguros de si, muito cheio de si, muito gato-tigre que não era... mas gostaria de ser. Olhar de rufia, mas esperto, inteligente, de quem lia nas entre-linhas o que a noite lhe dizia. Tinha grandes conversas com a lua, que lá no alto via tudo o que se passava cá em baixo com mais clareza. Magro e esguio, escapava-se por entre os prédios enormes, escuro como a noite, confundia-se no seu suspiro. E ela, a noite, adorava deixar-se enganar por aquele gato-bravo que a endoidecia e a tornava mais misteriosa.


Pomplamoose - La Vie en Rose

Ela cantava... Alegrava-lhe a vida aquele pequeno. Levava com ela o vento e as folhas e as borboletas nocturnas a soprar aos ouvidos do Sr. Manuel que fechava o café as 2h15min todos os dias. Levava o vento até a ponte onde os amantes se encontravam todas as noites para olhar as luzes da cidade reflectidas no rio. Levava a alegria romântica até ás ruas calcetadas no ponto mais alto da cidade. Levava aquele vento cortante que nos faz chorar os olhos quando nos rimos de nervosismo e contentamento nas noites frias em que o coração parece um lugar mais quente para nos refugiarmos.
A noite tinha-se tornado uma velha alegre e bêbeda que levava o seu riso histérico, tombando e cambaleando, rindo da sua própria figura, seguindo aquele gato.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sinto o corpo dormente,
Perto de um estado de dormência
Em que dorme e sonha
Que é corpo alado,
E não corpo sem lado.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Uma Pequena Flor

"E chegou o dia em que o risco de permanecer apertada no botão era mais doloroso que o risco necessário para florir."

Anais Nin


Entre Aspas

quarta-feira, 21 de abril de 2010

18h30min


Sento-me na borda da cama e descalço-te os sapatos com cuidado enquanto me contas o teu dia. Sei-te demasiado cansado, a tua roupa amarrotada de viagens de metro, secretarias e computadores. Ouço o teu respirar ofegante enquanto fechas os olhos e deito-me ao teu lado. Copio a tua postura, de olhos fechados sentimos-nos mais leves! Ficamos assim em silêncio, e o respirar toma conta do quarto e das luzes da cidade que lá fora se levantam. E depois... depois aproximas-te lentamente da minha boca, os nossos olhos aproximam-se lentamente e cada vez mais próximos até se unirem num único olhar. E assim olhamos um pouco mais além sem termos de o dizer mutuamente. As nossa respiração confunde-se no nosso sabor, e já não sabemos o que é parte de mim e de ti. Somos um único corpo, um único respirar... lentamente morremos quando nos voltamos a separar mas afogados numa morte bela.


quinta-feira, 1 de abril de 2010

The Woman in You


"Could've sworn I heard you say Amen this morning showing some kind of sign that you believe. Did it fall from your tongue without warning? Or just another trick to fall from your sleeve?
Did I hear you say that you believe in angels? I guess I bring the devil out in you, but we can both remove our halos because even an angel needs love too."

Ben Harper


quarta-feira, 31 de março de 2010

Hay Amores

Para escutar em silêncio, porque...


Shakira

quinta-feira, 25 de março de 2010

Lisboa

Brilham-me os olhos, reflexos de mil-e-uma luzinhas que se vêm ao fundo. Adoro chegar a esta cidade, cada vez que chego como se fosse a primeira... Penso que em cada luz há uma janela. Em cada janela há uma pessoa. Em cada pessoa uma vida, todas elas com as sua preocupações, tristezas e alegrias. Gosto de pensar, neste momento, que há mais boas pessoas que o contrário. E as mil janelas, que mandei rasgar na minha alma, para deixar entrar as mil luzinhas que vejo, passam a estar, todas elas, iluminadas.




Brilham-me os olhos, reflexos de mil e uma luzinhas que se vêm ao fundo. O Esperança é o maior!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Para Ser Grande, Sê Inteiro!




Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis

segunda-feira, 8 de março de 2010

Loucos

- Não sei o que faço! - exclamou o louco loucamente possuído pela loucura do momento que era, provavelmente, a maior loucura que alguma vez experimentara, ou não fosse ele louco!
- Sou louco, desvairado... Não penso, apenas faço o que me apetece, agora ou depois. Quando me lembro! Se hoje estiver com vontade de saltar de um avião e acreditar que posso voar, amanhã quem sabe se não poderei?
- Eu sei... não poderás... Eu sei, vai por mim!
- Não vou que sou louco! Os loucos não vão por ninguém, nem por eles próprios quando pensam direito.
- Então não ligues aos teus pensamentos, nem às tuas vontades. Não ouças ninguém. Ficas quieto, imóvel, torna as tuas ideias passivas...
- Não sejas louco! Não me impeças de sonhar! É a única liberdade que tenho, uma vez que nos sonhos não há loucura a mais.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Conta-me Histórias...


Clã

Agora, que pousas a cabeça
Na almofada e respiras satisfeito,
Quero o teu amor sem sentido nem proveito!

Agora que repousas
Lentamente, sigo a curva do teu peito.
Procuro o segredo do teu cheiro.

Juntos fomos correndo lado a lado,
Juntos fomos sofrendo ter amado,
Amas a vida
E eu amo-te a ti...

Conta-me histórias daquilo que eu não vi...

Logo juntas a tua roupa
E dizes que a vida está lá fora.
Passou a minha hora...

Juntos fomos correndo lado a lado,
Juntos fomos sofrendo ter amado,
Amas a vida
E eu amo-te a ti...

Conta-me histórias daquilo que eu não vi...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Quando não se pode tomar decisões, só se tomam decisões erradas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Viagem da Cozinheira Lagrimosa

Antunes Correia e Correia, sargento colonial em tempo de guerra. Se o nome era redundante, o homem estava reduzido a metades. Pisara um chão traiçoeiro e subira pelas alturas para esses lugares onde se deixa a alma e se trazem eternidades. Correia não deixou nem trouxe, incompetente até para morrer. A mina que explodira era pessoal. Mas ele, tão gordo, tão abastado de volume, necessitava de duas explosões.
- Estou morto por metade. Fui visitado apenas por meia-morte.
Perdera a vida só num olho, um lado da cara todo desfacelado. O olho dele era faz-conta um peixe morto no aquário do seu rosto. Mas o sargento era tão apático, tão sem meximento, que não se sabia se de vidro era todo ele ou apenas o olho. Falava com impulso de apenas meia-boca. Evitava conversas, tão doloroso que era ouvir-se. Não apertava a mão a ninguém para não sentir nesse aperto o vazio de si mesmo. Deixou de sair, cismado em visitar no obscuro da casa a antecâmara do túmulo. O Correia perdera interesses na vida: ser ou não ser tanto lhe desfazia. As mulheres passavam e ele nada. E ladainhava: "estou morto por metade"
Agora, reformado, sozinho, mutilado de guerra e incapacitado de paz, Antunes Correia e Correia tomava conta de suas lembranças. E se admirava do fôlego da memória. Mesmo sem o outro hemisfério não havia momento que lhe escapasse nessa caçada ao passado. Das duas uma: ou a minha vida foi muito enorme ou ela fugiu-me toda para o lado direito da cabeça. Para as recordações virem à tona ele inclinava o pescoço.
- Assim escorregavam directamente do coração, dizia ele.
Felizminha era a empregada do sargento. Trabalhava para ele desde a sua chegada ao bairro militar. Nos vapores da cozinha a negra Felizminha arregaçava os olhos. Enxugava a lágrima sempre tarde. Já a gota tombara na panela. Era certo e havido: a lágrima se adicionando nas comidas. Tanto que a cozinheira nem usava tempero de sal. O sargento provava a comida e se perguntava porquê tão delicados sabores.
- É comida temperada a tristeza.
Era a invariável resposta de Felizminha. A empregada suspirava: ai, se pudesse ser outra, uma alguém. Poupava alegrias, poucas que eram.
- Quero guardar contentamento para gastar depois, quando for mais velhinha.
Metida a sombra, fumo, vapores. Nem a sua alma ela enxergava nada, embaciada que estava por dentro. A mão tiritacteava no balcão. O recinto era escuro, ali se encontravam voláteis penumbras. A cozinha é onde se fabrica a inteira casa.
Certa noite, o patrão entrou na cozinha, arrastando seu peso. Esbarrou com a penumbra.
- Você não quer mais iluminação na porcaria desta cozinha?
- Não, eu gosto assim.
O sargento olha para ela. A gorda Felizminha remexe a sopa, relambe a colher, acerta o sal na lágrima. O destino não lhe encomendou mais: apenas esse encontro de duas meias vidas. Correia e Correia sabe quanto deve à mulher que o serve. Logo após o acidente, ninguém entendia as suas pastosas falas. Carecia-se era de serviço de mãe para amparar aquele branco mal-amanhado, aquele resto de gente. O sargento garatunfava uns sons e ela entendia o que queria. Aos poucos o português aperfeiçoou a fala, mais apessoado. Agora ele olha para ela como se estivesse ainda em convalescença. O roçar da capulana dela amansa velhos fantasmas, a voz dela sossega os medonhos infernos saídos da boca do fogo. Milagre é haver gente em tempo de cólera e guerra.
- Você está magra, anda a apertar as carnes?
- Magra?
Pudesse ser! A tartaruga: alguém a viu magrinha? Só os olhos lhe engordavam, barrigando de bondades. A gorda Felizminha gemia tanto ao se baixar que parecia que a terra estava mais longe que o pé.
- Me esclareça uma coisa, Felizminha: porquê essa choradice, todos os dias?
- Eu só choro para dar mais sabor aos meus cozinhados.
- Ainda eu tenho razões para tristezas, mas você...
- Eu de onde vim tenho lembrança de coqueiros, aquele marejar das folhas faz conta a gente está sempre rente ao mar. É só isso, patrão.
A negra gorda falou enquanto rodava a tampa do rapé, ferrugentia. O patrão meteu a mão no bolso e retirou uma caixa nova, mas ela recusou aceitar.
- Gosto de coisa velha, dessa que apodrece.
- Mas você, minha velha, sempre triste. Quer aumento no dinheiro?
- Dinheiro, meu patrão, é como lâmina... corta dos dois lados. Quando contamos as notas se rasga a nossa alma. A gente paga o quê com o dinheiro? A vida nos está cobrando não o papel mas a nós, próprios. A nota quando sai já a nossa vida foi. O senhor se encosta nas lembranças. Eu me amparo na tristeza para descansar.
A gorda cozinheira surpreendeu o patrão. Lhe atirou, a queimar-lhe a roupa:
- Tenho ideia para o senhor salvar o resto do seu tempo.
- Já só tenho metade de vida, Felizminha.
- A vida não tem metades. É sempre inteira...
Ela desenvolveu-se: o português que convidasse uma senhora, dessas para lhe acompanhar. O sargento ainda tinha idade combinando bem com o corpo. Até há essas da vida, baratinhas, mulheres muito descartáveis.
- Mas essas são pretas e eu com pretas...
- Arranje uma branca, também há aí dessas de comprar. Estou-lhe a insistir , patrão. O senhor entrou na vida por caminho de mulher. Chame outra mulher para entrar de novo.
Correia e Correia semi-sorriu, pensageiro.
Um dia o militar saiu e andou a tarde toda fora. Chegou a casa, eufórico, se encaminhou para a cozinha. E declarou com pomposidade:
- Felizminha: esta noite ponha mais um prato.
A alma de Felizminha se enfeitou. Esmerou na arrumação da sala, colocou uma cadeira do lado direito do sargento para que ele pudesse apreciar por inteiro a visitante. Na cozinha apurou a lágrima destinada a condimentar o repasto.
Aconteceu, porém, que não veio ninguém. O lugar na mesa permaneceu vazio. Essa e todas as outras vezes. Única mudança no cenário: o assento que competia à invindável visita passava da direita para a esquerda, esse lado em que não havia mundo para o sargento Correia.
Felizminha duvidava: essas que o patrão convidava existiam, verídicas e autênticas?
Até que, uma noite, o sargento chamou a cozinheira. Pediu-lhe que tomasse o lugar das falhadas visitadoras. Felizminha hesitou. Depois, vagarosa, deu um jeito para caber na cadeira.
-Decidi me ir embora.
Felizminha não disse nada. Esperou o que restava para ser dito.
- E quero que você venha comigo.
- Eu patrão? Eu não saio da minha sombra.
- Vens e vês o mundo.
- Mas ir lá fazer o quê, nessa terra...
- Ninguém te vai fazer mal, eu prometo.
Daí em diante, ela se preparou para a viagem. Animada com a ideia de ver outros lugares? Aterrada com a ideia de habitar terra estranha, lugar de brancos? Nem rosto, nem palavra da cozinheira revelavam a substância de sua alma. O sargento provava a refeição e não encontrava mudança. Sempre o mesmo sal, sempre a mesma delicadeza de sabor. No dia certado, o militar acotovelou a penumbra da cozinha:
- Venha, faça as malas.
Saíram de casa e Felizminha cabisbaixou-se ante o olhar da vizinhança. Então o sargento, perante o público, deu-lhe a mão. Nem se entrecabiam bem de tão gordinhas, os dedos escondendo-se como sapinhos envergonhados.
- Vamos, disse ele.
Ela olhou os céus, receosa por, daí a um pouco, subir em avião celestial, atravessar mundos e oceanos. Entrou na velha carrinha, mas para seu espanto Correia não tomou a direcção do aeroporto. Seguiu por vielas, curvas e areias. Depois parou num beco e perguntou:
- Para que lado fica essa terra dos coqueiros?

Mia Couto

Ouvi Dizer


Ornatos Violeta

Ouvi dizer que o nosso amor acabou...
Pois eu não tive a noção do seu fim.
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim,
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi.
E eu fiquei com tanto para dar
E agora...
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva.

E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer, que o mundo acaba amanhã
E eu tinha tantos planos pra depois.
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós...
Sem tirar das palavras seu cruel sentido
Sobre a razão estar cega,
Resta-me apenas mais uma razão:
Um dia vais ser tu,
E um homem como tu,
Como eu não fui.
Um dia vou-te ouvir dizer...

E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer...
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nos carros, nas casas, nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Ora amarga, ora doce.
Quando nele julgamos ver a nossa cura.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Há Pouco Tempo Que Não...

Devia tornar-se tudo mais simples quando se descomplexa as coisas. Uma simples situação de embaraço total devia tornar-se numa perfeita troca de sorrisos, apesar de tímidos, agradáveis para atenuar possíveis silêncios. Há pouco tempo que não me passeio com alguém só para ouvir o que essa pessoa tem para dizer, reparar nos olhares, nos gestos, no modo de pôr as mãos nos bolsos enquanto caminha e dar pontapés nos seus próprios passos... (e sei que se costuma dizer, há muito tempo que não acontece isto ou aquilo... mas disse exactamente como o queria dizer).

Gosto de te ver com o cabelo puxado para trás, de cabelo longo e meio esticado, ondulado e com jeitos nas pontas. Gosto de te ver com esse teu sorriso mais branco no rosto, e ouvir as tuas gargalhadas ao meu lado, e olhar para os teus olhos que ficam pequeninos e um pouco enrugados quando ris muito. Ahhh... sabe bem mesmo! "Soube-me bem rir um bocadinho com este filme."

Apesar de não ser o melhor filme que vi até hoje, (e por acaso está um pouco longe disso mesmo) mas também já vi muito pior, fiquei a adorá-lo depois destas palavras.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

...

Tenho aquela necessidade de escrever, escrever, escrever e contar tudo o que se tem passado cá dentro do meu peito, mas nunca se sabe por onde começar... E esse é sempre o aspecto mais difícil, porque depois crescem novas lembranças, novas historias, e sempre há mais um pormenor ou outro que fica por escrever a espera de uma próxima inspiração (ou nenhuma) e acaba por ser esquecido.
Sinto que ultimamente tenho "esquecido" coisas que para mim são essenciais, ou melhor, não tenho esquecido de todo, apenas não demonstro que me lembro delas. E por isso devo desculpas a algumas pessoas, tenho situações a corrigir, tenho tostas-mistas prometidas e tenho waffles para fazer para duas meninas importantes na minha vida.

Something About Us



Daft Punk

Costuma ter mais sabor quando estamos lado-a-lado, ou abraçados, ou simplesmente a conversar enquanto comemos um gelado dentro do carro. "Boa companhia e boa música". Vamos eternizar estes momentos para sempre?
Gosto de te ouvir cantar, e repetir o mesmo vezes e vezes sem conta.

Desculpa e Obrigado ;)



quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Foi um dia feliz!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Friday, I'm in Love


Lá, lá, lá...
Apetece-me dançar esta música, mas não sei como... Ensinas-me?



The Cure

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Jogo do Sério

Senta-te a minha frente e tenta não rir, não esboces um sorriso sequer. Mantém-te na frieza do ser, logo serás mais do que uma folha de papel ou palavras soltas sem sentido. Agora escreve em mim a tua historia, vem desenhar o teu nome em mim, o teu destino final. Perde-te e eu encontro-te mas não te rias. Pensa em mim, ou noutra coisa, pensas no que quiseres mas mantém a mesma expressão facial para que não se desmanche o momento sereno que criamos. Fecha os olhos de vez em quando que ajuda a centrar os pensamentos, ajuda...
"Ahahahaha! Sou mesmo terrível a jogar ao sério!"

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

- Tu és louco e as tuas loucuras deliciam-me os dias. - disse Sílvia Portijo depois de trincar metade de uma bolacha que estava em cima da mesa de madeira, esquecida desde o pequeno-almoço. Rapidamente se arrependeu de tal gesto, que a bolacha esfarelou-se sujando o seu colo com migalhas de chocolate.
Ele olhou demoradamente para aquela mulher com corpo de menina. Magra demais, talvez; com traços finos, toda ela dessa natureza: ancas finas, ombros frágeis e feições que lhe faziam sobressair o sorriso. Não o fazia muitas vezes, mas fazia-o demasiadamente bem para ser apenas mais uma rapariga. As migalhas de chocolate tinham sujado o seu vestido de flores, antigo, com flores coloridas que contrastavam com a sua pele pálida. Um vestido que lhe fazia sobressair a cintura com uma fita de seda amarela. Apesar do seu tom pálido a sua saúde transparecia em todo os seus gestos: a sua cara rosada, os seus olhos verdes muito vivos, o seu cabelo negro brilhante que geralmente vinha solto e um pouco despenteado dando-lhe um ar de menina traquina, e que hoje vinha atado de lado com uma flor a rematar o pormenor.
- Deixa-me ajudar-te com isso Sílvia. Eu limpo o chão! Vai lá tratar do teu vestido...

Ela levantou-se lentamente, com cara pensativa, um sorriso enigmático que o fez estremecer. Correu para o rádio da sala, fez o ritual de tocar em trinta botões e ligou a máquina. "Salif Keita"




e as suas mãos no ar, balançava o corpo por aquela sala comprida ao som daquela música. Já tinha espalhado todo o seu perfume por ali, de olhos fechados seguia dando voltas a mesa e às poltronas de tecido sem tropeçar no candeeiro de pé alto. Já sabia aquela sala de cor que desde pequena, e Ricardo Nunes era testemunha disso, dançava por ali de olhos fechados e rodopiava como se entrasse num exorcismo de felicidade.

- Ricardo! Junta-te a mim! Vamos dançar!
- Mas não vais lavar o teu vestido?
Na realidade as migalhas já tinham sido espalhadas pelo chão e já não existiam mais aos olhos de ninguém.
- Não sei dançar... - respondeu Ricardo, tentando esconder a timidez detrás da vassoura que tinha pegado a pressa assim que ouviu o pedido. Já tinha sido alcançado por Sílvia que lhe pegou na mão e, praticamente, lhe arrancou a vassoura laranja. Puxou-o para o meio da sala como fazia quando eram pequenos, e ele lá se deixava ir... Meio contra vontade, meio por satisfeito de ver aquela rapariga bailar tão feliz. Ele lá ía por arrasto.
-Não sei dançar! - Tentou chamar a atenção do quanto incomodado estava de ser arrastado pelo salão de festas, tropeçando em mesas e cadeiras, no tapete...
- Não fales! Sente a música...
Aproximou-se dele e sentiu-lhe o corpo tenso, sem vontade. Olhou-o nos olhos e deu aquele sorriso brutalmente devastador de más disposições. Parou no meio da carpete ao lado da lareira que nesse dia fumegava lentamente. A madeira do soalho tinha então parado de ranger e começava a estalar e a voltar à sua posição natural.
A música agora era outra,




o som mudava de alma, e a alma precisa de tempo para ser vontade.

Ele era um louco, era belo e ela adorava o seu ar despreocupado, a sua maneira de por a boca quando pensava concentrado em algo, adorava o seu olhar perdido no espaço quando pensava...
- Vamos... - foi interrompida pelo gesto de silêncio delicado de Ricardo.
- Vamos ficar em silêncio, ouvimos a música, rimos, vamos até a varanda fumar um cigarro, conversamos lentamente, para que não se perca nenhum momento da tua voz, e nenhum momento da minha capacidade de te escutar, danças para mim se quiseres, mas eu gosto só de olhar-te.

- Era o que eu ia dizer... sabias que me adivinhas os pensamentos?
Levantou-se para sacudir as migalhas, e correu para o seu quarto para trocar de vestido enquanto gritava "Obrigada Ricardo! Limpa lá o chão num instante que eu já estou atrasada..."

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sou Metade de Mim

Abraço os dias, sinto-te a pele e limpo-te as feridas, dou-te beijos e sorrirei para ti as vezes que forem necessárias para te ver sorrir. Quero-te ao pé de mim todos os dias, apesar de ser feia, sou bonita na alma, sei sentir os teus olhos e os teus olhares, e leio a tua mente sem precisar de ouvir a tua voz. Quando falas eu não te ouço, eu escuto o que dizes, porque quero perceber cada palavra e cada sílaba e os seus sentidos e os teus sentidos, colecciono-os.
Lamento não estar presente. Quero ser feliz a minha maneira.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tengo

Tengo y lo que tengo lo mantengo a base de amor y fe.
Siento que si no estas no corre el viento quizas afuera si, pero no dentro de mi.
Vengo sin maletas con lo puesto y esta cancion mi remedio, vitamina para vivir.
Vuelvo y a teneros si estas lejos como el trueno cuando pasas junto a mi.


La melodia de una rumba me dijo el secreto, no esta en la tumba sino en el vivir.
Y viviendo a todo trapo olvide caminar despacio y las heridas de mis pies en ti.
No cantare a lo que desconozco, solo a lo que entro en el fondo como el poso del vino que bebi.
Y antes de emborracharme brindare mirando a tus ojos y gritare el secreto es el amor que siento por ti.

La primera leccion aprendi, pero olvide el cuaderno al salir.
En la escuela de la vida no se puede repetir.
Asi que voy lapiz en mano tomando notas y callando, a veces es mejor no decir.
Aprendi a alzar las velas, aguantarle a la marea y a romper las olas del mal vivir.
Y es que el vaso medio lleno - medio vacio, mi niña, solo depende de ti y de mi.

Y no se es mas rico el que mas lleva sino el que algo tiene y lo conserva
Sin enfriarlo, sin olvidarlo en un cajón.
y no hay mayor tesoro que el que guardas en tu corazon,
No en el bolsillo triste de un pantalón.

Macaco

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Knocking on Heaven's Door


Avril Lavigne

Comunicado

Acho mal... um novo ano começou e ainda não publiquei aqui nenhum 'post' que reflicta o optimismo característico da época... Não é que não o tenha. Realmente este novo ano que começa gosto de pensar que é um pouco meu (ou nosso). Irá ser um pouco meu na medida em que espero conseguir objectivos concretos para mim, para quem me rodeia, desejos que tenho... e não falo aqui de desejos demasiado idealistas ou um tanto ou quanto utópicos, como aqueles de ir ao espaço ou ganhar o Euromilhões. Falo sim de metas que me propuz a atingir. Mas ficam mesmo só para mim que são minhas e não têm de ser de mais ninguém...
Então é assim: eu gosto de ser optimista e deixar aqui um pouco do bom dos meus dias. Assim será a partir de agora. E o último texto será deste modo, o primeiro e último 'post' com uma conotação negativa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Queria gritar, com todas as forças que tenho no corpo, nesta mente cansada do monótono do dia-a-dia, queria sentir o sangue quente a subir lentamente a cabeça e a percorrer fervorosamente todas as veias até as extremidades. Queria gritar até me faltar o ar, até os pulmões se virarem do avesso, até sentir cá dentro o vazio de quem não tem mais angustias na alma... Fecho os olhos. Hoje sinto o peito pesado. Parece que o coração bate aos solavancos, e nem sei bem a razão, porque especialmente hoje não há razão... falta-me o ar e a vontade de o sentir. Apetecia-me...

... apetecia-me ter uma conversa mas não é o melhor dia e amanhã, provavelmente, já passou a vontade de a ter.

... apetecia-me um abraço teu neste momento, que sempre me curaste e seguraste quando tenho vontade de chorar e hoje não podes.

... apetecia-me gritar só para me sentir viva.

Mas não posso. Já não são horas e há gente a dormir...
Tento ter a força para levar o que é meu e sei que, às vezes, vai também um pouco de nós. Devo concordar que, às vezes, falta-nos a razão, mas nem no que há, há razões para nos sentirmos tão sós... Vem fazer de conta, eu acredito em ti! Estar contigo é estar com o que julgas melhor. Nunca vamos ter o amor a rir para nós... Como queremos nós ter um sorriso maior?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Casa (Vem Fazer de Conta)


Da Weasel feat Manuel Cruz

Era tudo quando ela me dizia "Bem vindo a casa!" numa voz bem calma.. Acabado de entrar pensava como reconforta a alma... Nunca tão poucas palavras tiveram tanto significado e de repente, era assim do nada, como um ser iluminado.
Tudo fazia sentido, respirar fazia sentido, andar fazia sentido, todo o pequeno pormenor em pensamento perdido. Era isto que realmente importava, não qualquer outro tipo quantificação, não o que se ganhava, não o que diziam de nós... Não! Não! Não!
Um novo carro, uma boa poupança, nem sequer a família ou a tal aliança. Nada, apenas duas palavras, um artigo formavam resposta universal, a minha pedra filosofal. Seguia para dentro do nosso pequeno universo um pouco disperso, pronto, disponível para ser submerso naquele mar de temperatura amena que a minha pequena abria para mim sempre tranquila e serena.

"Bem vindo a casa" dizia quando saía de dentro dela. Bonito paradoxo inventado por aquela dama bela em dias que o tempo parou, gravou, dançou, não tou capaz de ir atrás mas vou porque sou trapalhão, perdi a chave, nem sei o meu caminho... Nestes dias difusos em que ando sozinho, definho à procura de uma casa nova do caixão até à cova, o percurso é duro em toda a linha sempre à prova.

Por isso escrevo na esperança que ela ouça o meu pedido de desculpas, de socorro, de abrigo, não consigo ver uma razão para continuar a viver sem a felicidade do meu lado... Da minha, casa doce casa, já ouviram falar? É o refugio de uma mulher que Deus ousou criar com o simples e único propósito, de me abrigar. Não vejo a hora de voltar lá para dentro, faz frio cá fora! Faz tanto frio cá fora, que eu já, não vejo a hora...